domingo, 2 de maio de 2010

Ficando nua.


Hoje desejei me despir, ser lida em toda minha essência.
Desejei que meu leitor o fizesse com todos os sentidos.
Fragmentasse-me.
Desconstruísse-me...
Mais do que ser lida, desejei ser apreendida. Sentida. Como se minha alma tivesse cheiro, gosto e tez. Como se esta leitura pudesse me livrar de meus maiores medos, sonhos e segredos.
Queria revelar-me. Ser o que nunca fui para ninguém, talvez, nem para mim mesma!
Tirar esta máscara, que considero a mais bela, a mais correta, a mais aceitável e desnudar-me de fato. Mostrar minhas cicatrizes. Cortes que ainda têm carne viva. Expor o que tenho de mais belo e feio. E paradoxalmente deixar de ser, para ser!
Porém, há tanta covardia em mim. Há tanto receio. Tanto medo... Incoerências e inconsistências.
A menina e a mulher brigam o tempo todo por um espaço. Confundem-se.
Uma deseja colo e outra tem mãos, braços, boca, corpo e alma para oferecer. Confundem-me...
Pretensão a minha querer ser lida, como posso desejar isso, se nem mesmo eu consigo me ler?
Coisa estranha. Coisa minha. Coisinha...

Vagueio em meus pensamentos.
Repasso coisas.
Experiências.
Palavras.
Gestos. Os grandes, os pequenos.
Estranho como tempo e empatia não são proporcionais.
Estranho.
Quase incômodo!

...gente flor. Flor de gente. (Suspiro)

Engraçado como para mim é quase impossível não conciliar cheiro às imagens, lembranças e palavras.
O olfato é meu sentido preferido.
Vim para casa pensando no cheiro que cada pessoa tem. Não o cheiro do seu perfume, mas, seu cheiro de gente.
Uns tem cheiro de biscoito de chocolate.
Alguns de vinagre.
Minha mãe, de mouse de maracujá.
Outros, raros, cheiro de pêssego. É... Cheiro de pêssego!

E agora, recordando da leitura de hoje. Não da auto-leitura, que tanto citei anteriormente, mas, a que realizei durante o almoço e no emaranhado de perturbações que ela me causou, questiono: E se as igualasse às flores?Que flores seriam?
A maioria certamente gostaria de ser rosa, mas, rosas não são somente belas. Rosas escondem espinhos, sendo assim, de que adianta tanta beleza?
Para ser bem sincera, não consigo estabelecer se de fato as admiro. Acho que não. Beleza é algo maior e menos óbvio.
Na verdade sempre preferi outras três flores: o girassol, a tulipa e gipsofila.
Logo, se fosse classificar pessoas como flores, acho que usaria estas espécies, pois, são as mais belas ao meu critério.
O girassol por seu movimento tão nítido. É como se todos os dias ele buscasse um recomeço e gritasse: Sol! Espero por ti! Leve-me. Brilhe e deixe-me brilhar! Conheço vários girassóis, alguns, porém, parecem querer brilhar mais que o sol. Não os culpo. Brilhar é de fato sedutor.
A tulipa por sua beleza solitária e discreta. O seu formato de cálice me sugere armazenar segredos e proporcionar surpresas a quem decidir decifrá-los. Que surpresas? Não sei, mas, sei que existem... Aos meus olhos, tulipas têm algo a revelar e por isso são naturalmente misteriosas... Pessoa tulipa é pessoa interessante! Adoro tulipas. É por tulipas que me apaixono.
Mas, as gipsofilas... Ah, as gipsofilas! Pequenas. Pequenininhas... Passariam despercebidas, por alguém menos detalhista. São consideradas “apoio” de flores importantes. Pobres gipsofilas! Tão belas. Tão simples. Tão encantadoras... O que seriam das belas rosas sem as gipsofilas? Gente assim é que faz a diferença!Pessoas que nem parecem importantes, geralmente são as que fazem a maior diferença.
Eu, porém cometi um equívoco, disse que usaria três flores para classificar as pessoas. Percebi que preciso de mais variações. Umas inclusive não podem nem mesmo, ser flores, afinal, tem gente cravo, gente capim, gente erva - daninha... E nos últimos dias tenho me deparado bastante com exemplares destas espécies. Não citá-las poderia sugerir que a vida me parece um belo jardim.
E embora, confusa e com dificuldade de leitura própria, ainda mantenho minha sanidade. E por mais que a música insista em gritar: “é bonita e é bonita”, não posso evitar que algumas pessoas e coisas consigam deixá-la menos bela.
Realmente é uma pena!
Odeio o cheiro de vinagre. Odeio capim, cravo e erva - daninha.

Está tudo tão confuso.
Estou com medo.

Outro suspiro...

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